O Professor Lucas Norat é faixa-preta da Gracie Barra e competidor ranqueado pela IBJJF na categoria Superpesado. Ele tem um estilo pouco comum para um lutador do seu peso, pois gosta de pegar as costas (atacando com o Berimbolo, por exemplo), algo que esperamos de um atleta mais leve, mas nem sempre dos competidores de categorias mais pesadas.

Nas próximas semanas, a GB Online apresentará uma série com o Professor Norat e seus ataques das costas partindo de cima. Nós conversamos com o Professor para saber mais sobre seu histórico de competições e esse estilo único de luta que ele desenvolveu.

O começo no Jiu-Jitsu com a Gracie Barra 

O Professor Norat começou a praticar Jiu-Jitsu com o seu pai, faixa-preta que treinava nos anos 90. 

“Eu queria me aproximar do meu pai e fazer tudo o que ele fazia. Ele treinava Jiu-Jitsu e eu também queria praticar artes marciais. Comecei a fazer boxe e Muay Thai. Na mesma época, passei a sofrer bullying na escola e queria fazer algo para me proteger do agressor.”

Quando tinha cerca de treze anos e morando no Brasil, o Professor Norat estava de férias e se motivou a treinar Jiu-Jitsu com o pai, imaginando que o menino da escola que o provocava poderia querer brigar quando as aulas voltassem.

“Então, pedi para acompanhar meu pai nos treinos em sua escola. Já na primeira aula, senti que eu poderia ser bom naquilo. Quando criança, eu era muito ruim nos esportes. Estava acima do peso e era descoordenado. Mas o Jiu-Jitsu foi algo para mim do tipo… ‘talvez eu consiga fazer isso’.”, conta o Professor Norat.

Ele começou a treinar duas vezes por dia. Quando as férias terminaram, ele voltou para a escola prevendo um possível confronto, mas, por fim, o tal valentão já não queria mais briga. Mas a paixão do Professor Norat pelo Jiu-Jitsu estava instalada.

Lucas Norat teve a felicidade de conhecer o Professor Joelson Souza, que dava aulas na Gracie Barra de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Com uma mudança nos horários daquela escola, o Professor Norat passou a treinar em outra unidade da GB, sendo ensinado pelo Professor Villeem Coelho.

Atualmente, Norat é competidor de Jiu-Jitsu e treina na GB East Mesa, no Arizona, EUA.

Histórico nas competições

Em sua faixa de peso, o Professor Norat está classificado entre os 10 melhores do mundo pela IBJJF. Ele alterna entre as categorias Pesado e Superpesado.

Algumas de suas conquistas foram o Brasileiro da IBJJF de 2014, Campeonatos Sul-Americanos e Estaduais do Rio na faixa-azul

Além disso, ele alcançou colocações importantes em vários Open da IBJJF, no Grand Slam de Abu Dhabi e no Campeonato Brasileiro Sem Kimono.

Em 2020, já como faixa-marrom, o Professor Norat venceu o Campeonato Nacional dos EUA, nas categorias com e sem kimono. Em 2021, ele conquistou algumas edições dos Open da IBJJF – em Phoenix, Chicago e Charleston – além de vencer as competições “Fight To Win” e “Third Coast Grappling”. 

O Professor Norat encerrou o ano de 2021 em 6º lugar no ranking mundial dos Superpesados. Ele também venceu o prestigiado Aberto de Los Angeles da IBJJF.

Norat recebeu sua faixa-preta das mãos do Professor Flávio Almeida em janeiro de 2021. 

Competições como faixa-preta

Ao começar a competir como faixa-preta, o Professor Norat notou diferenças comparado às disputas em faixas inferiores. 

Os lutadores são mais experientes e ele conta que precisou aprender a ser mais estratégico nas lutas e a evitar erros. 

“Às vezes, as pessoas não perdem suas posições. Se você errar na faixa-preta, pode não conseguir recuperar a pontuação. Um erro pode definir a luta.”, diz o Professor Norat.

“Estou aprendendo a usar mais estratégia, mas sem medo de lutar. Não se trata de lutar para não perder. É lutar para ganhar, mas sem cometer erros imprudentes. Esse foi o principal aprendizado.”

O Professor Norat também ressalta que enfrentar competidores bem conhecidos do Jiu-Jitsu eleva o nível da sua experiência. “Ter que lutar contra pessoas que você cresceu assistindo. Você se inspirava neles e agora precisa enfrentá-los. Demorou alguns torneios para eu sentir que realmente pertencia a essa divisão.”

Atacando as costas partindo de cima

O Professor Norat filmou uma série de vídeos instrucionais para a GB Online, focados em ensinar os ataques e as tomadas das costas partindo de cima. 

O Professor explica que sua abordagem neste curso é um pouco diferente do que os fãs de Jiu-Jitsu estão acostumados.

“Sinto que isso é importante, pois muitas vezes estamos focados na passagem de guarda tradicional. O cara está por baixo trabalhando a guarda e eu por cima tentando passar a guarda e ganhar o controle lateral.” 

Essa é uma boa estratégia no Jiu-Jitsu, mas Norat oferece outras oportunidades ofensivas na passagem de guarda. Ao invés de se concentrar apenas em passar a guarda para a imobilização lateral, o Professor incentiva os alunos da GB a explorarem outras possibilidades de tomada das costas durante a passagem da guarda.

“Há muitas alternativas a serem exploradas. Se ficamos presos a uma opção, perdemos oportunidades incríveis de pontuar com a pegada das costas ou até mesmo de finalizar.”, diz o Professor Norat.

Ele destaca que alguns competidores de alto nível já utilizam essa estratégia, como Felipe Pena, Gordon Ryan e André Galvão, mas que é algo bastante negligenciado por muitos lutadores. 

O Professor sente que sua estratégia pode ser ainda mais eficaz do que a tradicional passagem e imobilização lateral, graças ao “fator surpresa” – o oponente simplesmente não espera ter suas costas expostas e dominadas. 

Norat reconhece que seu estilo de Jiu-Jitsu não é o que as pessoas normalmente imaginam de um peso pesado. Ele não segue o padrão de luta para alguém do seu porte, baseado em esmagamento e forte pressão sobre o adversário. Ao contrário, o Professor prefere usar muitas posições vistas como típicas de um lutador mais leve, como passagens rápidas, Berimbolo e ataques dinâmicos pelas costas. 

A importância da montada pelas costas nas competições

O Professor Norat vê a capacidade de montar pelas costas talvez como a estratégia mais eficaz para vencer competições. Nas lutas tradicionais de Jiu-Jitsu, passar a guarda e progredir para a montada era visto como o principal caminho para a vitória. Mas as estratégias evoluíram e os competidores se adaptaram, aprendendo a defender e a contra-atacar os movimentos mais conhecidos.

“O objetivo era ir para a montada. Mas com a evolução do Jiu-Jitsu, as pessoas passaram a ter mais dificuldade em mantê-la. Primeiro passando a guarda e depois montando. Com a evolução, passar a guarda ficou muito mais difícil. Então, o desafio tornou-se conseguir montar e evitar que o oponente recuperasse a guarda. Por fim, ficou ainda mais difícil manter a montada depois de alcançá-la.”, explica o Professor Norat.

“Muita gente vira as costas quando tem sua guarda passada. É geralmente nessa direção que as pessoas vão, e as costas acabam sendo o caminho para pontuar e até finalizar uma luta. Normalmente, quando você passa a guarda, o oponente se vira de frente para você ou de costas expondo-a. Assim, você pode dominá-la partindo de cima, como ensino nos meus vídeos.”

“O domínio das costas é a posição suprema”

O Professor Norat enfatiza o quão forte é a posição de pegada das costas. “Ao dominar as costas e manter-se firme, você ganha muitas oportunidades de atacar pescoço, braços e pernas. Pelas costas, geralmente temos mais controle do que da montada, e muitas oportunidades de finalização partem dessa posição. Mas o ponto principal é que atacar das costas é onde mais nos encontramos durante uma luta. De uma passagem de guarda ou de uma pressão por cima.”

O Professor Norat concorda que sua tática para atacar das costas é relativamente única. Ele explica que, embora sinta que muitas vezes tem uma vantagem de força sobre a maioria dos oponentes, não conta com uma alta flexibilidade. Assim, não pode apostar em igualar a velocidade do seu oponente em disputas pelas costas que ocorram muito rapidamente. Por isso, ele adaptou sua pegada das costas para poder usar as pernas e quadril no controle do adversário, visando impedir a fuga. 

“Eu uso as pernas e meu quadril para controlar o quadril do oponente. Assim, não dependo tanto da flexibilidade.”, revela o Prof. Norat.

Berimbolo peso-pesado

O Professor Norat sente que os lutadores mais pesados também podem usar algumas posições que, muitas vezes, são vistas como exclusivas dos mais leves, como o Berimbolo.

“Ao assistir várias explicações sobre o Berimbolo e a pegada das costas hoje em dia, um peso pesado pode pensar: ‘cara, nunca conseguirei fazer isso. Meu corpo não é assim. Não sou tão flexível.’ Mas se eu posso fazer, qualquer um pode.” diz o Professor Norat.

Ele acredita, por exemplo, que muitos alunos da Gracie Barra tendem a evitar o Berimbolo porque sentem que a posição não funcionaria para eles. 

“Mas se virem um cara mais pesado fazendo os movimentos de maneira que eles também conseguiriam, podem se identificar.”

“O sistema que eu uso não depende tanto da flexibilidade. Depende mais da pressão e do foco em pressionaro e controlar adequadamente o quadril. Com isso, tiramos a mística do Berimbolo e dos ataques das costas, transformando-os em algo que alunos comuns conseguem aplicar.”

Para assistir à série de vídeos do Professor Norat, acesse sua conta da GB Online. Os vídeos serão disponibilizados em 22 de novembro de 2022.

Blog escrito originalmente em inglês por Mark Mullen, faixa-preta da Gracie Barra.