A Globalização do Jiu-Jitsu – O Primeiro Atleta a Receber a Faixa Preta de André Nunes na Alemanha

Treinador que representa a Gracie Barra na Alemanha elogia Canelo: “Campeão dentro e fora dos tatames”

O caminho de todo atleta para alcançar a Faixa Preta é repleto de histórias de superação e perseverança, que na maioria das vezes, são desconhecidas por muitas pessoas. Para o Campeão Eric Canelo, essa trajetória durou 10 anos e o maior legado é a influência que recebeu do Professor André Nunes e do colega de colégio Peter Lobeck.

O caminho para a Faixa Preta foi a melhor jornada que eu poderia desejar. Parece que foi ontem, mas já se passaram dez anos desde que pisei no tatame pela primeira vez. No início tudo é caótico, a sua percepção sobre si mesmo e o seu Jiu-Jitsu é limitada. Tive uma mistura perfeita de influências do Professor André que é obcecado pela técnica e pela mecânica do esporte, e a outra parte era um amigo especial chamado Peter Lobeck”. 

Canelo começou a treinar Jiu-Jitsu aos 15 anos. De personalidade introvertida, o Faixa Preta sentia-se inseguro e frustrado pela baixa estatura e por não ser comunicativo na época. O primeiro contato com o Jiu-Jitsu aconteceu através de um colega de colégio ao qual o Campeão a princípio tinha uma rixa. Segundo Eric, durante um desentendimento na escola , Peter Lobeck teve uma postura dominante e impressionante, o que o levou a procurar Lobeck questionando  onde ele havia aprendido aquelas competências.

“Na altura, ele era faixa azul e foi muito gentil em me convidar para a minha primeira aula de Jiu Jitsu. Primeiro não tinha ideia do que era o Jiu Jitsu, mas uma coisa é clara para mim: uma grande parte de mim, quem eu sou e toda a energia acumulada finalmente encontrou o seu lugar. Esse sentimento me deu tanto alívio, mas simultaneamente muita curiosidade.”

Eric Canelo revelou que para desenvolver as habilidades necessárias, se aventurou em uma viagem ao Reino Unido, local onde reside atualmente, e ficou hospedado em um albergue durante quase 1 mês, depois partilhou uma casa com outros 7 profissionais do Jiu-Jitsu. 

“Vim para o Reino Unido sem nada. A única coisa com que me preocupava era a formação a melhorar e a competição. Tive tantas boas influências no meu Jiu-Jitsu, mas no fim, é preciso descobrir por si próprio o que é melhor para si e quem quer ser. O Jiu-Jitsu, e especialmente o Professor André Nunes, criaram um ambiente onde eu posso desenvolver e aprender todas as lições que têm de ser aprendidas.”

A equipe GB bateu um papo exclusivo com o Black Belt Eric Canelo e com o Professor André Nunes, confira a entrevista:

GB: Como se sente por ter sido o primeiro a receber o Black Belt de André Nunes?

EC: O Professor André Nunes e eu partilhamos uma ligação realmente forte e me sinto honrado por receber a faixa preta por ele. Estou grato pela sua orientação e amor incondicional durante todos estes anos. Ser o primeiro faixa preta me soa como uma grande responsabilidade, mas me enche de entusiasmo. A sede de criação e de ação é maior do que nunca.

“O Jiu-Jitsu na Alemanha é cheio de potencialidades. Temos o Judô, o Greco Roman Wrestling e o tradicional Jiu-Jitsu japonês, mas em comparação, o BJJ é uma novidade. A curiosidade e o interesse em treinar o Jiu-Jitsu Brasileiro estão crescendo constantemente ao longo dos anos. Ainda não temos muitos faixas-pretas de alto nível, mas na minha opinião isso vai mudar em breve. Acho que toda grande cidade da Alemanha tem algum tipo de treinamento de jiu-jitsu, mas a Gracie Barra ainda não está difundida. A infraestrutura e as ferramentas estão lá, então estou ansioso para ver o futuro, e provar o quão podemos crescer aqui na Alemanha.” – (Eric Canelo)

GB: Quais são as suas perspectivas agora de defender o Escudo Vermelho com a faixa preta?

EC: A minha perspectiva em relação ao Escudo Vermelho nunca mudou muito. No momento em que recebi a Faixa Preta, senti uma enorme responsabilidade. Durante todos esses anos estive mais no lado do aprendizado. Eu era como uma esponja que absorvia todos os conhecimentos ou aproveitava qualquer oportunidade que a GB tinha para me oferecer. Sem a estrutura e a rede de contatos, penso que tudo teria sido mais difícil. Agora sinto a necessidade de retribuir. Estabelecer uma cultura Gracie Barra juntamente com o professor André e a minha grande amiga Max Geisinger, que partilha os mesmos sonhos. Além disso, quero representar o escudo vermelho na cena da competição e ser o primeiro campeão mundial alemão da GB.

“O Eric Canelo está comigo desde os 15 anos de idade. No princípio de sua carreira não se destacava dos demais. Mas sempre muito aplicado. Tinha o talento de aprender uma técnica e executá-la no mesmo dia quando lutava. Essa particularidade me chamou a atenção. Então capitalizamos esse talento desenvolvendo estratégias e jogos específicos que funcionaram e ainda funcionam muito bem nas competições. Logicamente precisamos contar também com a dedicação, disciplina e ambição de superação de seus limites, e isso o Canelo tem de sobra. Para completar a receita, ele é uma pessoa humilde, correta e definitivamente uma boa pessoa. Campeão dentro e fora dos tatames.” – (Professor André Nunes)

GB: Como foi construída e como é hoje em dia a relação entre professor x estudante com André Nunes? 

EC: O professor André facilitou muito a minha ligação com ele. Ele apenas me aceitou como eu sou e nunca tentou me forçar a fazer nada. Eu não falava muito no início, a minha primeira forma de comunicação foi ouvindo. Cada sessão tinha um objetivo particular, e a minha parte era aplicar a técnica do dia. Eu prestava cada vez mais atenção aos ensinamentos devido a este padrão. Mas não me interpretem mal, eu não era o tipo mais talentoso. Algumas pessoas pegavam os movimentos muito mais rápido do que eu. Eu falhava e era esmagado muitas vezes, mas uma coisa era clara: eu me esforçava ao máximo e tinha uma força de vontade muito grande. Tenho de repetir que na minha mente treinar jiu-jitsu e competir não eram duas coisas distintas. Se faço jiu-jitsu, tenho de competir. Ninguém me forçou, mas todos à minha volta estavam vivendo isso comigo e acreditando. Comecei a ganhar competições locais e regionais, mas para mim, isso era apenas mais uma parte de fazer jiu-jitsu. Durante este tempo, André e eu partilhamos muitas coisas incríveis.

“Existem alguns fatores importantes: o primeiro é ser leal à missão de levar o jiu-jitsu para todos, e isso nos foi ensinado pelo mestre Carlos Gracie Jr., possibilitando que o número de alunos da minha academia seja muito alto. Então quando há um universo grande de alunos, as possibilidades de gerar campeões é muito maior. Não focar apenas nos atletas campeões e sim na qualidade das aulas do programa Gracie Barra, facilitando assim o surgimento de novas gerações de campeões (Não tenho aulas de competição e todos meus campeões sempre foram formados na GB1, GB2 e GB3). Ministro vários seminários por ano e isso me ajuda muito a ajustar e melhorar minha didática como professor. Também animo muito aos meus alunos a me acompanharem e participamos juntos de Seminários, Camps e Conferências da Gracie Barra. Esses eventos são, na minha opinião, extremamente importantes na atualização do conhecimento, no fortalecimento dos laços com os demais professores e para estarmos cada vez mais conectados, com o objetivo de sempre: promover o estilo de vida saudável, trabalhar motivado e com vocação de fazer o melhor” – (Professor André Nunes)

GB: Com a primeira faixa preta de alto nível GB na Alemanha, como compreende que isto pode influenciar o crescimento do esporte no país?

EC: Pessoalmente penso que todos deveriam praticar ou pelo menos tentar fazer jiu-jitsu, e se fosse eu quem os influenciasse a fazê-lo, ficaria mais do que feliz e orgulhoso. Compreendo que sou um dos primeiros aqui na Alemanha e que posso ser um exemplo para aqueles que vêm depois de mim. Pessoalmente tenho muitos objetivos, e quando os atingir, as pessoas verão isso. Começarão a pensar que esta carreira também pode ser uma realidade para eles. Sozinhos não somos nada, e com os que seguirão, podemos estabelecer uma grande cultura de Barra Gracie também na Alemanha.

“Sou um Faixa Preta agora, mas a inércia e o não progredir não é uma opção. Estou muito grato por todas as memórias, experiências, e todo o amor e apoio que recebi de todos os que fizeram parte deste caminho. Agora estou pronto e entusiasmado para os próximos dez anos. Obrigado por terem lido esta entrevista, espero que possam ter entendido um pouco de mim e da minha jornada. Sigo os meus sonhos e se eu puder te inspirar a fazer o mesmo, seja o que for que esteja tentando realizar, eu ficaria mais do que feliz. Comprometa-se, mantenha-se fiel a um plano, ajuste o plano durante o processo e permaneça paciente. No fim, todos trabalham de formas diferentes, por isso é preciso descobrir o que funciona melhor para si. Você nunca saberá o que funciona melhor para si mesmo se tiver medo de falhar ou parar de tentar coisas novas. A minha última mensagem é: acredite no jiu-jitsu e no que ele pode fazer por você e aos outros, espalhe o Escudo Vermelho na sua comunidade e desfrute do Processo” – (Eric Canelo).

Blog escrito por Alicinha BJJ, Faixa Marrom da Gracie Barra

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